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Fundo de Resposta Rápida – Conclusões e lições aprendidas

O cenário dos diversos problemas que ameaçam as democracias nos diferentes países da América Latina é alarmante. O desafio já não era simples, como não tem sido para a maioria, e a crise sanitária com todas as suas consequências exige ação.  Começamos fazendo uma análise profunda com a ajuda de muitas e muitos especialistas sobre como enfrentar o contexto que evidencia ainda mais, dia após dia, a profunda desigualdade na região em vista da nova realidade. E em agosto de 2020, após meses de trabalho e sem reuniões presenciais, lançamos a Pulsante e anunciamos ao mesmo tempo seu primeiro convite à apresentação de propostas para um Fundo de Resposta Rápida (FRR).

O objetivo do FRR foi responder e aproveitar janelas de oportunidade para ampliar o espaço cívico.  As crises das democracias na América Latina são marcadas por quatro grandes variáveis: a crise de representação, a cultura da impunidade, a grande desigualdade no acesso a serviços públicos e a exclusão. Para enfrentar essas ameaças em nossa região, o FRR buscou apoiar ações coletivas conjunturais capazes de influenciar o fortalecimento da democracia.

Organizações, movimentos e grupos estão se organizando e respondendo de maneira coletiva às deficiências do governo e às ameaças ao espaço cívico e aos direitos humanos. Com cinco meses de convite aberto à apresentação de propostas, recebemos 451 inscrições de 20 países.  Selecionamos cinco projetos que aproveitavam janelas de oportunidades únicas em seus países para realizar processos de incidência e mudanças sociais necessárias.

O FRR permitiu atender às necessidades imediatas da região, em um ano de profundo desencanto com o governo, mas também de fortes mobilizações dos cidadãos para demandar justiça social. As temáticas das inscrições recebidas foram diversas e organizações de toda a região enviaram propostas. Da Argentina até o México, os projetos buscavam dar visibilidade, posicionar, atender e resolver problemas estruturais, e o desafio foi associar os problemas a janelas de oportunidades específicas. As temáticas das campanhas selecionadas refletem temas urgentes na região:

  • Conscientizar a sociedade brasileira sobre a escassa representação de mulheres, afrodescendentes, quilombolas, povos africanos tradicionais, povos indígenas, jovens e pessoas LGBTIQ+ em cargos públicos de eleição popular.
  • Mobilizar e informar sobre a violência institucional machista, isto é, o que as autoridades fazem ou deixam de fazer que afeta o direito das mulheres a uma vida livre de violência no México.
  • Fortalecer, ampliar e promover a participação dos cidadãos no processo constituinte do Chile.
  • Fornecer informações e recursos a ativistas para proteger seu direito ao protesto em ambientes digitais no Peru.
  • Posicionar as lideranças e demandas das mulheres indígenas para que sejam incluídas e possam influenciar a agenda pública na Guatemala.

As iniciativas e as organizações responsáveis são:

  1. Quero me ver no poder do INESC, Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político,  Odara – Instituto de Mulher Negra, Intervozes  e outras 15 organizações e coletivos no Brasil.
  2. Não me cuidam! Contra a violência institucional machista do 25N ao 8M da Balance Promoción para el Desarrollo y Juventud A.C., CCIS, Luchadoras e feministas independentes: Irasema Fernández, Daniela Nicolini e Paulina Sánchez no México.
  3. Por um processo constituinte democrático, informado e participativo da organização Espacio Público e Universidade Diego Portales no Chile
  4. Quem vigia os vigilantes? da Hiperderecho e Fotografxs AutoConvocadxs no Peru.
  5. Juntas e enfrentando a pandemia mundial da Associação de Mulheres Indígenas Moloj, Rede Comunitária de Mulheres Mayas K’iche’ San Vicente e outros 2 grupos na Guatemala.

Destas cinco, a primeira campanha já concluída é a do Brasil, “Quero me ver no poder”, que conseguiu posicionar o debate sobre a sub-representação nas eleições do país na discussão política e na agenda pública, em 2020, por meio de uma ampla campanha nas redes sociais, meios de comunicação tradicionais e independentes, e um convite aberto à apresentação de propostas para que jovens jornalistas escrevessem histórias sobre o tema; além disso, pelo rádio, por meio de uma parceria com a Radio Web, plataforma que distribui conteúdo para todos os municípios brasileiros, a mensagem chegou a 373 cidades – 159 rádios comerciais, 233 rádios comunitárias e 23 rádios educativas, atingindo assim uma média de 56 mil pessoas. A campanha teve início com uma forma inovadora de gerenciar a comunicação, que envolve não competir no mercado saturado das redes sociais; ao invés disso, foram utilizadas pessoas já posicionadas como transmissoras da mensagem.

As outras quatro campanhas continuam ativas e serão concluídas no primeiro semestre de 2021 – haverá muito que contar sobre os processos e os resultados esperados.

O FRR da Pulsante permitiu identificar a capacidade, velocidade e versatilidade necessárias em um fundo com essas características e entender o ritmo do ecossistema, resultando em reflexões, observações, visões e lições aprendidas que incluímos no planejamento das próximas linhas de apoio que serão anunciadas em breve.

Agradecemos a todas as organizações, coletivos e grupos que se inscreveram.

A participação cidadã é forte e vibrante na América Latina e essas cinco campanhas selecionadas são apenas uma amostra do enorme potencial que a colaboração, a articulação e a ação coletiva têm como visão comum para fazer frente às ameaças enfrentadas na região.

Tabela interativa de temas das inscrições (clique nas temáticas):